A realização de uma cirurgia e demais tratamentos de alta complexidade são fatores que qualquer um de nós podemos passar a todo instante. No entanto, no Brasil vem crescendo o número de pacientes que são submetidos a erros médicos. São diversos relatos e denúncias de profissionais que operam o joelho errado, ou qualquer outro membro. Um dos casos mais recentes, está a de uma servidora pública do PR que processou um cirurgião após ter feito o procedimento no joelho errado. Ela conta que percebeu o erro logo após a cirurgia e vive até hoje com sequelas.
Para evitar um equívoco por parte do médico, em Fortaleza (CE), um geneticista adotou uma estratégia simples e objetiva para evitar um eventual erro antes da operação: ele escreveu as palavras “sim” e “não” nos próprios joelhos para sinalizar qual deveria ser operado. Ele explicou que, inclusive, fez as sinalizações após recomendação da própria equipe de enfermagem.
Localizamos e entrevistamos mais uma pessoa que passou por erro médico. Margareth Pereira da Silva, de 66 anos, moradora de Betim (MG), foi ao hospital para realizar uma cirurgia em sua mão esquerda, porém foi a sua mão direita que foi mexida. Confira esse relato e experiência vivida pela nossa entrevistada desta quarta-feira, 8 de novembro.
Conte-nos como tudo ocorreu. A senhora já estava sentindo dores na mão esquerda?
Eu tinha muitas dores nas mãos, principalmente na mão direita. Tinha dormência, eu não conseguia segurar as coisas e eu procurei esse hospital que é referência em ortopedia em Belo Horizonte, e foram feitos todos os exames. Lá é tudo de primeira ponta, exames, super agendado, tudo muito bacana, tudo muito bom. Ok, foram feitos vários exames nas duas mãos, só que constou um pequeno problema na minha mão esquerda, e perguntaram se eu tinha problema nessa mão também, eu falei que já tive, mas parou de doer. Só que aí nos exames constaram que minha mão esquerda estava mais comprometida e que por isso, eu não sentia dor, porque o corpo já não estava dando o alerta quando sente alguma coisa. Na mão direita, eu tinha túnel do carpo e dedo engatilhado, que é quando os dedos travam. Os médicos afirmaram que a prioridade seria a minha mão esquerda. Então, foi agendado a cirurgia, fiz todos os exames pré-operatórios, tudo certinho. Me internei, fui para a sala de cirurgia e fiz o procedimento. Eu apaguei, dormi, foi uma cirurgia geral, não vi nada. Porém, quando eu acordei da cirurgia, eu falei, “estou com a mão direita operada, como assim?”
A senhora percebeu de imediato?
Eu não falei mais nada na hora, achei estranho aquilo tudo, fui pra casa. Uma semana depois voltei para retirada dos pontos e sim, questionei o doutor de porquê de ter operado a mão direita ao invés da esquerda. E detalhe, só foi feito um procedimento, que é o túnel do carpo, o dedo engatilho não foi feito. O médico simplesmente pegou a ficha, olhou e não falou nada. Um outro médico estava lá, olhou para ele, e depois de alguns segundos ele afirmou e assumiu pra mim que errou. Ele disse que eu tinha que operar a mão esquerda e operou a mão direita e que tinha faltado o dedo engatilhado. O outro médico, assustado dele, assumiu perante a mim que tinha errado.
E qual foi a sua reação na hora?
Eu, na hora, não tive ação, porque o tratamento que tem lá dentro é assim... ficou por isso mesmo.
E o médico que errou, falou mais algo?
Um detalhe que eu quero acrescentar, depois, quando eu voltei lá, o médico não estava mais no hospital. Até perguntei onde estava o doutor. Eu achei muito estranho ele ter saído logo depois disso, entendeu? Eu não sei se isso repercutiu em alguma coisa lá dentro.
A senhora voltou para fazer a cirurgia na mão certa?
Sim, quando eu voltei para operar a mão esquerda, que aí sim era a correta, eles sinalizaram a minha mão toda com seta, meu braço foi todo sinalizado naquele dia. Ainda brinquei dizendo que faltava só o giroflex.
O que o hospital te disse após esse episódio? O médico sofreu alguma punição por conta disso?
Não me disseram mais nada, não tocaram no assunto e como disse o médico quando voltei já não fazia mais parte da equipe. O assunto morreu.
A senhora processou o médico, o hospital?
Nada, ficou por isso mesmo. Não acionei o hospital, não fiz nada.
Como a senhora se sentiu e se sente atualmente com esse erro? Como está a sua mão direita atualmente?
Na época fiquei chocada, mas ainda assim continuei lá, pois é um hospital de renome em Minas Gerais. Eu precisava mesmo dessa cirurgia, e se eu fosse depender do SUS não tinha feito até hoje, porque eu tentei por anos e nada. Aqui em Betim (MG) a saúde está deficiente, especialista pior ainda. Quanto às minhas mãos, graças a Deus estão ótimas, ainda com dedo em gatilho, mas não mexi mais.
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